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PARTICIPANTES

Adna Candido de Paula

Título: Uma Trajetória Interdisciplinar: Mário de Andrade, Paul Ricoeur, Comte de Lautréamont

Resumo: A presente comunicação tem por objetivo apresentar um percurso de pesquisa interdisciplinar orientada por Suzi Frankl Sperber. Trata-se de uma investigação sobre as noções de alteridade, subjetividade e religiosidade. Em complemento a este percurso, será apresentado o projeto atual de pesquisa sobre a noção do mal, que, em última instância, é a continuidade e a consolidação da pesquisa desenvolvida nas etapas anteriores. Será discutida, igualmente, a noção de interdisciplinaridade.

 

Adriana Zapparoli

Adriana Zapparoli (Campinas – São Paulo) é escritora, poeta e tradutora. Realizou pós-doutoramento pela Universidade Estadual de Campinas (S.P). Seus poemas foram publicados em revistas de arte e literatura impressas e eletrônicas. Publicou A Flor da Abissínia (versão bilíngüe) em 2007; Cocatriz em 2008; Violeta de Sofia em 2009; Tílias e Tulipas (versão bilíngüe) em 2010; O Leão de Neméia em 2011; Flor de Lírio (versão bilingue) em 2012 e Flor de Lótus (versão bilingue) em 2013 todos editados pela Lumme Editor (Bauru - S.P). Colunista na Revista Chilena de Literatura e Arte Cinosargo.

Edita o blog http://zappazine.blogspot.com.br

 

Alan Sílvio Ribeiro Carneiro

Título: A fundação do projeto literário de Hilda Hilst: fragmentos da construção de uma poética

Resumo: A produção literária de Hilda Hilst nos últimos anos tem se tornado cada vez mais objeto de críticas que delineiam a complexidade do trabalho criativo da autora por diversos vieses teóricos. Esta pesquisa pretende contribuir para a compreensão da obra de Hilst através de uma leitura do conto Kadosh, publicado em 1973, na coletânea de mesmo nome, com um enfoque no processo de criação da autora. A partir da leitura dos fragmentos presentes nas notas e nos originais do conto é possível identificar os indícios de um conjunto de questões que passarão a ser dominantes na obra da autora, relacionadas à fundação do seu projeto literário.

 

Alcebíades D. Miguel: São Paulo

Título: Da maldade do jogo (quebra da tessitura narrativa e representação do Mal)

Resumo: As representações fantásticas do Mal possuem origem ancestral: desde criaturas com o estatuto ou certas prerrogativas de divindade (Arimã, o diabo, os jötunns) até seres de natureza destrutiva que seriam ampliações das catástrofes comuns da natureza (os vampiros, os lobisomens, os fantasmas). Contudo, desde a literatura gótica, a perspectiva histórica cruza o caminho com esse bestiário malévolo, alterando os princípios funcionais da representação do Mal seguidos em textos de natureza didática, instrutiva e formativa, como o "Malleus Maleficarum". A literatura fantástica redescobre o continente do Mal sobrenatural em suas constantes trocas com a esfera histórica, estabelecendo a subversão temática dos princípios estabelecidos pela força da teologia e da tradição. Logo, essa subversão alcançaria a lógica narrativa, com propostas de síntese mais ousadas e extremas.

 

Alexandre Lúcio Sobrinho

Título: A Estética da Morte: Reflexões sobre o suicídio honroso a partir dos textos de Mishima

 

O objetivo do trabalho será mostrar que o modo como Mishima elaborou sua trajetória literária e conduziu em paralelo com sua vida, aceitando como verdadeiramente japonesa e honrosa a máxima “descobri que o caminho do samurai é a morte” tem uma finalidade fundamentalmente estética. Para a análise foram selecionadas obras como O Hagakure: A Ética dos Samurais e o Japão Moderno e outros textos - cujos personagens são samurais - e aqueles em que o autor japonês reflete sobre o tema Bushidō (código de Ética Samurai), tal qual: Sol e Aço e a tetralogia Mar  da Fertilidade, além de Confissões de uma Máscara, obra cujo título já sugere algo como um relato autobiográfico. Será dedicada, entretanto, uma atenção especial ao conto Patriotismo, cujo enredo se concentra quase que única e exclusivamente no ritual do Seppuku (vulgarmente conhecido como Harakiri).

 

Alckmar Luiz dos Santos

Título: "O intelectual das Letras em tempos de saturação tecnológica".

Resumo: Diante das solicitações tecnológicas e acadêmicas por produtividade e inovação (esta última confundida com modismo; aquela, com qualidade), que caminhos restam para o intelectual das Letras? Alguns estão vendo na recusa do Humanismo uma possível resposta. Muitos optam pela espetacularização de sua persona e de sua produção intelectual. Uma terceira via envereda pela aceitação acrítica, sem critérios consistentes de avaliação, de produções literárias ou artísticas de que se sentem próximos, nunca por razões estéticas, mas por se identificarem a elas por motivos pessoais ou de grupo. Todas essas escolhas são, a meu ver, equivocadas. Nenhuma ajuda a recolocar melhor ainda a velha pergunta: afinal, estamos aqui para fazer mesmo o quê?!"

 

Ana Cristina Colla

Título: SerEstando Mulheres

Resumo: Vestir-se do outro como revelação de si mesmo. Será isso possível? Em sua busca por ser-estar na cena, a atriz Ana Cristina Colla, ao longo de seus 19 anos de pesquisa junto ao Lume, visitou pessoas, cidades, mestres, recan-tos. Entre encontros e confrontos, foi depurando seu fazer teatral, passando pela mímesis das corporeidades, visitando o butoh, como portas para a própria singularidade. Nesse encontro-demonstração a atriz narra através das imagens que cria e corporifica, seu saber impresso no corpo.

 

Ana Elvira Wuo

Título: Comicidade: Do “corpar” ao espaço público imediato, sedimentado e vivenciado pelo ator.

Resumo: A comicidade é um atributo da corporalidade que emana como manifesto da quebra de regras, da transgressão do si mesmo, desformando o ser social e corporificando-se na arte - cena como meio potencializador de proteção à expressão humana, a qual se perpetua como uma inata sabedoria cômica para que não se levem tão a sério todas as coisas da vida. A comicidade permite que as regras não sejam seguidas, que o corpo social ria de si mesmo, não invalidando as regras e normas, mas as colocando em suspensão. A comicidade corpórea revela que o ser humano movimenta sutilezas transgressoras de sua relação com o mundo. Isso mostra uma diversidade de condições e oportunidades, desconsiderando a seriedade das relações, a rigidez de um corpo social, sendo necessário transgredir o limite do racional imposto, adquirido na vida para jogar com a representação, deixar-se abandonar pessoa identidade social com destino à profanação cômica. A manifestação de um ser portador da comicidade imanente sedimenta na figura clownesca um corpo transitório-dialógico autoral criativo que recupera os elementos dispersos pelo processo civilizador- social controlado em lógica pessoal do sentir, pensar, agir, reagir, transgredir como fenômeno” corpar”, corpo-ator-espaço público imediato sedimentado e vivenciado no ato de uma aparição cênica, representando margem oposta e reversa aos territórios padrões estabelecidos pela sociedade.

 

Ana Luiza de Magalhães Castro

Título: Práticas Perceptivas e a Contribuição do Teatro Oriental em Peter Brook"

Resumo: O trabalho trata da contribuição trazida pelos atores Yoshi Oida e Tapa Sudana para o teatro de Peter Brook. Ambos oriundos de tradições teatrais do oriente onde as práticas corporais e vocais desenvolvidas pelos atores estão imbuídas da noção de transformação da percepção e dos estados de consciência do intérprete.

 

Anita Martins Rodrigues de Moraes (Anita Moraes)

Título: Notas sobre a ideia de “regressão” no pensamento de Antonio Candido.

Resumo: O objetivo desta comunicação será investigar a ideia de “regressão” no pensamento de Antonio Candido. Trata-se de lidar com sua proposição de que a literatura poderia não ter se formado no Brasil, ou seja, de que a literatura europeia trazida pelos portugueses teria corrido o risco de “regredir” à condição de “folclore”. Tanto na Formação da literatura brasileira (1959) como no ensaio “Literatura de dois gumes” (1966), a disciplina neoclássica dos escritores árcades é louvada como responsável pela resistência à ameaça de “regressão” decorrente do “primitivismo”, “incultura” e “barbárie” reinantes. Recorrendo aos estudos do autor sobre os caipiras, Os parceiros do rio Bonito (1964), encontraremos recursos para avançar na compreensão dessa ideia de “regressão”. Trata-se, assim, de explicitar e discutir as premissas evolucionistas do pensamento de Antonio Candido.

 

Anna Paola Biadi Bicalho

Título: O Percurso da Memória em Stanislavski

Resumo: Quando Constantin Stanislavski afirmava que o ator parte de si mesmo para a atuação teatral, a bagagem de vida do ator – sua memória – era acionada. O trabalho investiga como essa memória foi sendo trabalhada e modificada e como ela afetava ou era afetada por outros procedimentos ao longo de pesquisas e práticas de Stanislavski. O resultado da pesquisa será um filme que mescla diversas linguagens por meio de animação e live-action.

 

Antonio Carlos Drummond Castro

Título: "O Cerzidor Riobaldo: Ficção e Cidadania".

Ficção e Cidadania: possível, uma vez mais.

Resumo: Nos últimos vinte anos, a conhecida diversidade de temas  encontrada na obra de Guimarães Rosa vem sendo acompanhada, também, pela preeminência da perspectiva política em importantes estudos e ensaios acerca do romance do autor mineiro.O objeto de nosso trabalho consiste em penetrar na obra literária Grande Sertão: Veredas sob a perspectiva da política, levando em conta o direito e a história do medievo tardio e renascimento. E, como tal, precisamos partir da mediação do narrador,  desdobramento do romancista, que comunica o seu pensamento político.  Narrativa que, ao se utilizar de instrumentais político, jurídico, histórico e  intensos recursos literários, nos leva a considerar o romance como uma obra civilizatória; e isso, tanto para as gentes do sertão quanto para nós, leitores.

 

Aparecido José Carlos Nazário

Título: Efeitos da memória na narrativa de Zulmira Ribeiro Tavares: lembrança, esquecimento e trajeto interior no espaço das grandes cidades

Resumo: A literatura brasileira contemporânea é rica em autores que exploram de modo intenso, através da narrativa e da construção dos personagens, os espaços de sondagem da memória, promovendo, no campo da lembrança e do esquecimento, momentos de pura beleza que se acentuam à medida que determinados espaços físicos são percorridos pela intervenção do narrador e do protagonista. Nesse sentido, os efeiros das recordações mostram-se berm nítidos, tendo como referência os cenários das metrópoles que servem de pano de fundo para essa viagem interior. A partir dessas premissas, propomos como tema de exposição a leitura da obra Joias de família de Zulmira Ribeiro Tavares, autora contemporãnea que, mergulhada na memória, propõe a sondagem de seu espaço externo e interno, buscando, nesse processo, a consagração dos valores que manterão o prestígio do segmento social em discussão na referida obra.

 

Brisa de Oliveira Vieira

Título: A fusão de memórias na construção de "Isabelita"

Resumo: O trabalho a ser apresentado é parte do desenvolvimento do meu atual projeto de doutorado intitulado: "Isabelita, Memória e Humor" (IA). O projeto de doutorado é inspirado na minha investigação sobre matrizes corporais/vocais criadas a partir de uma apropriação da mímesis corpórea – metodologia criada pelo Lume (Núcleo Interdisciplinar de Pesquisas Teatrais da Unicamp) - desenvolvida por mim desde 2005 junto à Cia. Berro d´Água (da qual faço parte). A proposta de pesquisa tem como objeto a investigação do processo de composição da figura Isabelita e do processo criativo do espetáculo teatral “Isabelita”. Como a figura Isabelita, presente no espetáculo, é resultado de um processo de fusão de duas outras figuras: Isabel, criada a partir da observação de uma senhora moradora do Lar dos Velhinhos de Campinas, e Honorina, criada a partir da observação de senhora moradora de Santiago do Iguape (recôncavo baiano), na comunicação, pretendo revelar como se deu o processo de fusão de memórias.

 

Carolina Luiza Prospero Graziano

Título: As faces do medo nos contos de Clarice Lispector

Resumo: O presente trabalho busca analisar um conjunto de dez contos de Clarice Lispector sob a luz de uma mesma temática: a do medo. Essa necessidade nasce da percepção de que diversas narrativas da autora são conduzidas a partir do impacto que o medo tem em suas personagens, além da própria importância que esse sentimento, como tema, ganha a partir do século XVIII, e à qual a autora não fica alheia. A proposta é, portanto, investigar um corpus da obra clariceana em que se analise o medo como engrenagem dos enredos e em que se estabeleça o contraste entre o trabalho feito pela autora com base nesse sentimento e o realizado por escritores da tradição literária do horror.

 

Cecília Ohno

Título: O corpo sensível resgata a força da palavra na poesia

Resumo: Em 1996 foi criado no Brasil o núcleo de pesquisa Fu Bu Myo In sob orientação de Toshi Tanaka para desenvolver a arte com do-ho– a performance fugaku. Durante os anos de 2008/2009 o núcleo foi contemplado com o programa de Fomento à Dança para montagem e circulação de Tabibito – Viajante - uma performance fugaku em quatro estações, a partir do mergulho no livro de viagem Oku no Hosomichi de Matuo Basho, realizando criações cênicas a cada estação durante um ano. Mantendo as práticas corporais, concentrei-me na criação poética, resultando em Quando todas as folhas caem, um livro que reúne haicais que nasceram da escuta da natureza que repercute dentro do corpo e foi contemplado no edital de primeira publicação de livro no PROAC 2011.

 

Daniel Alberti Perez

Título: "Entre o Dramático e o Performativo: Uma proposta de treinamento para o ator"

Resumo: O foco central dessa comunicação é a investigação sobre a possível estruturação de um treinamento do ator que responda a lógica da cultura de presença e da cultura de sentido se estabelecendo entre o teatroDramático e o Performativo. Para tanto, delimita-se nesse campo de pesquisa as possíveis relações entre um tipo de improvisação ligada à exploração de movimentos (corporal e vocal) e uma prática de improvisação pautada na criação de histórias. Os objetos de referência nesse projeto são os Viewpoints e os Jogos Teatrais.

 

Daniel Batista Lima Borges

Título: Memória oral e narrativas caipiras: contadores de Caçapava.

Resumo: Concebendo a memória oral como um trabalho de reconhecimento e reconstrução, propõe-se pensar as narrativas da oralidade caipira praticadas por contadores da zona rural do município de Caçapava-SP como um repensar, com imagens e idéias de hoje, as experiências do passado. Essa dinâmica representa uma constante reacomodação simbólica que forma o equilíbrio dinâmico da cultura caipira na contemporaneidade em contextos de rápida industrialização e urbanização. Nesse contexto, a memória oral cria uma diferença em relação ao relato hegemônico a cada vez que é acionada e constitui um repertório de pronto emprego que atua no sentido de produzir uma pequena e eficiente alteração em uma estrutura estabelecida por um poder. Os próprios causos alimentam a memória oral com um repertório de maneiras de parodiar e ressignificar os discursos oficiais que marginalizam a memória oral e impõem ao homem do campo o tempo acelerado da industrialização, em prejuízo do modo de vida caipira.

 

Diego Baffi

Título: Passivatividade: exercício da diferença na construção de uma ética cênica

Resumo: Apresentarei a noção de passivatividade, que formulei em 2009 em minha dissertação de mestrado, partindo das formas que o palhaço deve criar para se dêem alianças. Há três níveis de abertura deleuzeanas,

Abertura do olhar: para que os olhos (mas também a pele, os ouvidos, o nariz e o paladar) vejam antes por perceptos;

Abertura para a ação da rua: estar em ‘passivatividade’ (passivo e ativo concomitantemente) com a caótica da rua, com sua capacidade de produzir encontros. Avizinhar-se de sua multiplicidade e espreitar a diferença arrebatadora que pode, repentinamente, dar a oportunidade de dali contrair um acontecimento artístico;

Abertura para o desconhecido: segundo Luís Orlandi “Se não admitirmos a loucura na nossa pesquisa ficaremos com a razão já posta – seremos bons repetidores, não criadores. Para criarmos temos de ser tomados; em certa medida, temos de nos perder no caos”.

 

Eduardo Augusto Colombo

Título: "Corpo-vida" e "pulsão de ficção": a organicidade na dramaturgia de ator.
Resumo: o artigo tratará da minha atual pesquisa de mestrado, refletindo sobre o processo criativo em teatro via dramaturgia de ator, tendo como principais referências os conceitos de "pulsão de ficção", de Suzi Sperber, e "corpo-vida", de Jerzy Grotowski, e sua abordagem na criação de um espetáculo teatral solo.

 

Eduardo Okamoto

Título: A dramaturgia do ator no contexto brasileiro – dramaturgia na intracultura

Resumo: O objetivo do trabalho é localizar, em experiência prática, como criação cênica, a chamada dramaturgia de ator no contexto brasileiro. Isto se dá a partir da interação, observação e imitação (Mimese Corpórea tal qual sistematizada pelo Lume Teatro) de construtores e tocadores de rabeca - instrumento de arco e cordas, como o violino, presente em muitas manifestações da tradição popular do Brasil. Este estudo corresponde ao paralelo teórico de uma pesquisa da arte de ator que resultou no espetáculo "Eldorado". A dramaturgia de ator é uma possibilidade de criação teatral em que a narrativa do espetáculo tem seu fundamento na organização de um repertório físico e vocal previamente codificado pelo ator. Até aqui, esta dramaturgia de ator é bastante influenciada pelas pesquisas transculturais da Antropologia Teatral. Este campo de estudo se detém em reconhecer o bios cênico do ator estudando diferentes tradições teatrais em diferentes épocas e geografias. Diferentemente desta análise transcultural, este trabalho propõe uma dramaturgia de ator fundada na pesquisa de circunstâncias locais: uma dramaturgia de ator na intracultura. Desenvolveu-se, assim, a face complementar àquela proposta pela Antropologia Teatral: em vez do estudo de princípios gerais do trabalho de ator, buscou-se a criação desta dramaturgia na vivência de especificidades

 

Eliana Kefalás de Oliveira

Título: Quem lê dança? Travessias e travessuras do texto literário no corpo

Resumo: A escuta do corpo, a percepção da presença corporal (VIANNA, 2005; MILLER, 2007) no momento da leitura abre a experiência da leitura para uma dimensão performática? O texto, ao ser lido, pode ser também dançado, seja em movimentos e mobilizações internas ao leitor, seja em vocalizações poéticas (ZUMTHOR, 2005), ou ainda em movimentos do corpo que se deixam levar pelo que o texto suscita naquele que lê? Esse desafio de experienciar a leitura levando em conta a escuta do corpo tem sido enfrentado por um grupo de professoras e professores da rede pública de ensino em Alagoas, através do curso de extensão "Leitura e expressão corporal", no qual se tem refletido coletivamente sobre possibilidades e entraves no trabalho com o texto literário na formação do leitor. Diante da experimentação da leitura em voz alta e em performance, algumas questões se tornam presentes: o que se passa quando se escuta o corpo na leitura literária? O que faz com que um mesmo texto seja recebido e performatizado de formas distintas por diferentes leitores ou por um mesmo leitor em diferentes momentos de experimentação do texto? A leitura em voz alta e em movimento pode ser uma via para a compreensão analítica do texto? Que possíveis relações se estabelecem entre literatura e artes corporais no ato da leitura performática?

 

Eliane Maria Diniz Campos

Título:“Então, o congado não é inventado não, ele é criado”

Resumo: A comunicação terá como principal objetivo desvendar o imaginário do Congo, Congada ou Congado em torno dele mesmo. A autora se servirá de seus estudos a respeito de um grupo específico, na cidade de Viçosa-MG, chamado Irmandade da Banda de Congado de Nossa Senhora do Rosário de São José do Triunfo. Baseando-se numa longa entrevista, concedida pelo “Rei Congo” (Seu Geraldo) e pelo “Capitão da Banda” (Seu Zeca) e também considerando a Festa do Congado, vivenciada no dia 14 de outubro de 2007; e tendo, a pesquisadora, transcrito todas as cantigas (música) e embaixadas (versos) entoadas; ela buscará, por meio de um renovado olhar, identificar e analisar quais são os valores e percepções dos próprios narradores sobre o folguedo em questão.

 

Elisa Martins Belém Vieira (Elisa Belém)

Título: Modos de criação: o corpo, a cena, o evento no Brasil

Resumo: Partirei da descrição de três práticas de criação (exercícios em sala de aula ou em processos criativos) de Dudude Herrmann (BH,MG) – dança; Enrique Diaz (RJ/RJ) – teatro; Lygia Clark (BH,MG/RJ,RJ) – artes visuais. Investigarei como o corpo é uma questão central nessas práticas. Analisarei como o corpo na cena ou em um evento é meio para elaboração de experiências sensíveis. Buscarei conexoes entre o conceito de Sperber de pulsão de ficção e a atribuição de sentido a vida pelo sujeito através dessas práticas.

 

Erich Soares Nogueira

Título: Vozes de Rosa

Resumo: A comunicação abordará o conceito de Vocalidade (diferenciando-o de oralidade) a partir de determinadas reflexões sobre a noção de voz na área da teoria literária (tal como nos estudos de Paul Zumthor e Roland Barthes) e da filosofia (em autores como Giorgio Aganbem, Adriana Cavarero e Corrado Bologna). Pontuadas as questões mais fundamentais da relação entre o conceito de voz e o discurso literário, serão analisados alguns breves episódios narrativos da obra de Guimarães Rosa – extraídos de “Meu tio o Iauaretê”, “Recado do Morro” e “Buriti” - que sinalizam a especificidade de uma vocalidade rosiana, que se constitui tanto no plano da linguagem quanto tematicamente e que pode ser um importante vetor de análise da obra do autor mineiro.

 

Fabiana Abi Rached de Almeida

Título: Ana: Território do Gozo e do Desejo em Lavoura Arcaica.

Resumo: O presente trabalho propõe uma leitura do incesto entre os irmãos, André e Ana, na obra Lavoura Arcaica de Raduan Nassar (1975) e no filme homônimo de Luiz Fernando Carvalho (2001) sob a perspectiva do gozo (jouissance) e do desejo, proposta por Jacques Lacan. Para Lacan, desejo e gozo possuem instâncias diferentes. O gozo não se separa do corpo e o desejo não se separa da linguagem. No entanto, para esse trabalho, a irmã, Ana, torna-se território de re-inscrição e ressignificação do gozo e só a partir daí há “superação”, que ocorre pela arte, mas de diferentes formas no romance e no filme.

 

Gabriela Ferraz Granja

Título: O Avanço da Escuridão: Formalizações do Mal na Literatura Fantástica

Resumo: O objetivo do presente trabalho é refletir sobre as relações de um determinado grupo de narrativas fantásticas com a configuração do Mal. Levo em conta os conceitos de Pulsão de Ficção, de Suzi Sperber, e de Mal Banal, de Hannah Arendt, além das análises sobre o conto maravilhoso, provenientes de Vladmir Propp.

Assim, escavo à procura de saber como esse mal era encarado e representado, principalmente na literatura e na cultura popular, antes do momento em que Arendt o classifica como banal. Daí surgirem questões como: haveria relação entre o Mal e o grotesco? Entre o Mal e o que advém da escuridão, da feiura, das profundezas, do medo? Como essas representações eram elaboradas, perpetuadas, tanto na esfera da realidade quanto na da ficção, até chegar aos dias de hoje?

 

Gustavo Rodrigues da Silva

Título: O cômico nos esperpentos valle-inclanianos

Resumo: Valle-Inclán é um autor espanhol profícuo do século XX, pois escreve em várias formas literárias como poema, prosa e drama. Ele criou o gênero esperpêntico, que possui entre as suas principais características o realismo grotesco, a “deformação da língua” através do emprego de gírias e o uso do método das passagens paralelas defendido pela corrente literária da estética da recepção. A nossa comunicação tem como objetivo mostrar a presença do cômico nos esperpentos teatrais valle-inclanianos através de fragmentos de suas duas obras seminais, que são: Luces de bohemia (2001) e Los cuernos de Don Friolera (1990), para constatar que o esperpento é um sub-gênero cômico da modernidade. A nossa análise se baseará principalmente na identificação dos recursos literários cômicos utilizados por Valle-Inclán na escrita de suas obras e que foram descritas pelo teórico Henri Bergson como a paródia, a ironia, o humor e a inversão. Também analisaremos para quais instituições, pessoas ou classes sociais estão destinada essa comicidade, que em última instância se constitue em críticas aos seus destinatários. Em uma análise mais detalhada, trabalharemos as críticas que o autor faz aos aspectos negativos dos contextos social, político e econômico da Espanha do início do século passado e até em que nível essas referidas críticas podem ser aplicadas a esses mesmos contextos da Espanha atual. Os nossos referencias teóricos são as premissas da corrente literária da estética da recepção com os seus vários expoentes tais como Wolfgang Iser, dos autores Rodolfo Cardona e Anthony Zahareas sobre a teoria do esperpento e dos autores Henri Bergson e René Girard sobre a teoria do cômico.

 

Jaqueline Castilho Machuca

Título: O segredo de Macabeas.

Resumo: Publicado em 1977, o romance A Hora da Estrela, de Clarice Lispector, foi adaptado às telas de cinema em 1984, pela cineasta Suzana Amaral. Macabea, a protagonista de ambas as obras, é dotada de uma sensibilidade delineada de formas diferentes pelo texto escrito e fílmico. Enquanto, no romance, o perfil da nordestina se constrói através do olhar e julgamento de um narrador em primeira pessoa, Rodrigo S.M., o longa metragem se atém às imagens da história da moça, cujas características se delineiam nas relações entre as personagens, uma vez que o foco narrativo se fragmenta em pontos de vistas diferentes, já que S.M. não aparece na trama de Amaral. Assim, este trabalho pretende expor, ainda que brevemente, os mistérios de Macabea na literatura e no cinema.

 

Jesser Sebastião de Souza

Título: “Brincando com coisa séria”

Resumo: Palestra/demonstração com Jesser de Souza, em cuja trajetória de ator e pesquisador teve contato com diversas manifestações dramáticas, espetaculares e religiosas da Cultura Popular Brasileira, assim como também desenvolve junto ao LUME – Núcleo Interdisciplinar de Pesquisas Teatrais da UNICAMP pesquisas focadas na elaboração e codificação de procedimentos metodológicos direcionados à instrumentalização técnica para o ofício de ator.

O foco será a manifestação dramática e espetacular do Cavalo Marinho, folguedo popular da Zona da Mata Norte de Pernambuco, expondo e demonstrando princípios que fazem parte desta brincadeira e que, uma vez apropriados e direcionados, apresentam potencial de ferramentas para a criação de um treinamento para atores e bailarinos.

 

Josilaine Cátia Gonçalves

Título: Linguagens Intercambiantes: Teatro e Filosofia

Resumo: O objetivo desta comunicação é investigar e compreender as formas da linguagem, as significações e os sentidos contidos na estrutura do texto, através da análise interpretativa filosófica para que possamos ter acesso à construção do conhecimento sobre “homem”, em específico o homem que vive o paradoxo da visão trágica com um sentido cômico da vida, tal como revela o mundo tragicômico de América, apresentado no texto teatral A Empresa de Hilda Hilst.

Deste modo, é função da prática interpretativa filosófica demonstrar os termos apresentados na linguagem poética construída pelo autor, para então, levantar hipóteses sobre o mundo representado na obra. Neste sentido, sugerimos neste trabalho a compreensão da linguagem poética de Hilda Hilst através de um aprofundamento do pensamento sobre os termos, os sentidos, as formas e os processos teatrais vigentes em seu texto, a fim de levantar proposições sobre o mundo apresentado na obra.

 

João Cesário Leonel Ferreira.

Título: O apóstolo Pedro como personagem nos evangelhos

Resumo: Os evangelhos canônicos são vistos, do ponto de vista da fé religiosa, como documentos que relatam a inserção do divino na vida cotidiana da humanidade. Por outro lado, da perspectiva dos estudos históricos e sociológicos, tais textos são tratados como fontes a partir das quais são pesquisadas e recriadas as estruturas de origem do cristianismo na Palestina do século I d.C. e também o desenvolvimento desse grupo religioso na região mediterrânea no mesmo período. Se na primeira abordagem os agentes e participantes dos relatos evangélicos são avaliados e analisados sob o foco da fé, na segunda são investigados a partir das viabilidades teóricas de sua existência e ação. O que se propõe neste trab alho, a partir da concepção da Bíblia como literatura, e de modo particular dos estudos da caracterização das personagens, é outra abordagem: analisar a figura do apóstolo Pedro como personagem nos evangelhos e indicar como ela é caracterizada. Na relação com outros componentes da narrativa, como o foco narrativo, o enredo e outras personagens, surge uma figura surpreendente, profunda e com contornos dramáticos, que exerce um dos papéis centrais na constituição da trama dos evangelhos. lho de Mateus, protestantismo, história da leitura e da formação do leitor.

 

Jorge Henrique da Silva Romero

Título: Cangaceiros e Imperadores na Terra do Sol: representações de Lampião e Carlos Magno na literatura de cordel.


Resumo: Esse trabalho procura investigar as representações de dois herois essenciais na literatura de cordel e na cultura nordestina: Lampião e Carlos Magno. Diversos folhetos narram a vida e morte de Lampião, e sobretudo, sua chegada no além. É o caso de "A chegada de Lampião no céu" de Rodolfo Coelho Cavalcanti, "A chegada de Lampião no inferno" de José Pacheco, emboladas como "A partida de futebol entre o time de Lampião e o time de Satanás", entre outros elementos presentes no imaginário e nas culturas brasileiras. Da mesma forma, Carlos Magno e os diversos elementos de um universo cortês estão presentes e se constituem como fundamentais. É o caso dos folhetos de Leandro Gomes de Barros: "A batalha de Oliveiros contra Ferrabraz", "O imperador Carlos Magno", "A prisão de Oliveiros". O objetivo desse trabalho é analisar as representações entres essas duas personagens através do conceito de "Figura" desenvolvido por Erich Auerbach no seu livro "Mímesis: a representação da realidade na literatura ocidental".

 

Júlio Santi:

Título: Guimarães Rosa e a Morte
Resumo: Uma breve leitura sobre as formas que a morte assume em alguns  contos de Primeiras Estórias.

 

Leo Agapejev de Andrade

Título: Sagrado e profano em formas simples

Resumo: Proponho verificar as relações entre Filosofia do diálogo (Martin Buber), teoria do arquétipo (C. G. Jung), especialmente no que diz respeito ao sagrado, e conceito de pulsão de ficção (Suzi F. Sperber). A filosofia de Buber, calcada no Hassidismo, trata de valores e conceitos judaico-cristãos vindos de uma interpretação peculiar da mística hassídica. A noção junguiana de arquétipo pode contribuir para verificar os paradigmas universais do diálogo buberiano e da pulsão de ficção sperberiana, os quais desembocam inevitavelmente em discussões sobre silêncio e sagrado. A pulsão de ficção, por sua vez, parte da psicanálise e de formas simples da literatura, apontando para a vida viva e a capacidade (e necessidade) humana inata de efabulação. Questões como ética e alteridade, ligadas à vida em comunidade, são inevitavelmente levantadas nesse movimento cuidadoso de abordagem da tensão entre sagrado e profano na literatura.

 

Luís André Nepomuceno

Título: O mito do lusitanismo no Renascimento Português

Resumo: A comunicação pretende mostrar as linhas de forças contrárias que estiveram presentes na literatura do Renascimento português: de um lado, a construção do mito do lusitanismo edificado à luz da expansão do império e da fé católica; e de outro, a elaboração mítica de um lusitanismo imaginário, de uma outra nação, de um outro império, vistos sobretudo sob o prisma de escritores críticos do imperialismo ou de escritores perseguidos pelas políticas de intolerância religiosa da Península Ibérica. O lusitanismo como nação mítica atingiu seu ápice com a publicação de Os Lusíadas (1572), de Camões, que coloca em cena as forças contrárias do próprio mito que ele construiu, promovendo um equilíbrio entre o mito da nação mercantilista e a crítica ao imperialismo. Mas já no começo do séc. XVI, Gil Vicente colocaria em cena as contradições do império lusitano, em peças como o Auto da Índia, ou na triologia das barcas. Ao longo do século, poetas e romancistas expuseram igualmente as contradições do imperialismo e das políticas de exclusão e segregação religiosa: Bernardim Ribeiro, judeu ou cristão-novo, talvez exilado na Itália, e motivado pelo romancista judeu Samuel Usque (que publicara sua Consolação às Tribulações de Israel em 1553), consolidou o gênero da consolação aos refugiados, seja com suas éclogas, seja com a Menina e moça, romance pastoril de 1554. Mesmo vivendo na Espanha e escrevendo toda a sua obra em espanhol, Jorge de Montemayor também argumentou em torno do mito do lusitanismo em seu romance Los siete libros de la Diana (1559), ou na sua correspondência com Sá de Miranda. O livro teria impacto em romances como a Lusitânia transformada (1607), de Fernão Álvares do Oriente, que igualmente questiona as motivações imperialistas do mito do lusitanismo. A intenção da comunicação não é exatamente analisar cada um dos autores separadamente, mas apresentar um quadro histórico geral do mito, a partir de suas contradições entre o encômio da nação portuguesa e a crítica de seus valores mercantilistas e imperialistas. Para tanto, o ponto de partida metodológico é uma relação entre história e literatura, ou antes, o estudo das questões políticas e religiosas que se desenvolveram ao longo do século do Renascimento em Portugal.

 

Luiz Antonio Mousinho Magalhães

Título: Ficção audiovisual: recepção da crítica jornalística

Resumo: O trabalho pretende discutir aspectos da recepção crítica de alguns cineastas brasileiros contemporâneos, com atenção tanto a filmes quanto a produtos de ficção televisual. Ao mesmo tempo, ao discutir diretores e obras, a proposta incluirá aspectos de análise fílmica.

 

Luzimar Goulart Gouvêa

Título: Estudos da cultura caipira: estágio e perspectivas

Resumo: A presente pesquisa pretende investigar o estágio atual dos estudos da cultura caipira, por meio do levantamento de pesquisas levadas a cabo em programas de pós-graduação de universidades brasileiras e em cursos de graduação. A defesa da dissertação de mestrado O homem caipira nas obras de Lobato e de Mazzaropi: a construção de um imaginário, por Luzimar Goulart Gouvêa, na Unicamp, em 2001, orientada pela Prof. Dra. Suzi Frankl Sperber, será tomada como marco inicial da pesquisa, que se estenderá até os dias presentes. As perspectivas teóricas adotadas nessa produção também são alvo de interesse da pesquisa. O resultado da presente pesquisa será empregado na confecção de um livro que versa sobre a variedade cultural regional do Vale do Paraíba, já em andamento.

 

Marcella Abboud

Título: Autores da alteridade: Sagrado e Ficção em Saramago e Borges"

Resumo: O século XX foi marcado por reinvenção da figura de Deus. Alguns autores, como José Saramago, fizeram de Deus o seu protagonista, lançando mão, inclusive, de releituras do texto Bíblico. De maneira incisiva, o autor tentou lidar com alteridade humana, identificando o pecador com Deus; mais, transformando Deus no próprio pecador. Jorge Luis Borges, por sua vez, deu preferência às místicas ao longo de sua obra, explorando tópicas religiosas para construir seu universo imaginário, suas bibliotecas, espelhos e as demais obsessões literárias, ancoradas no grande código, nos termos de Northrop Frye, que é a Bíblia. Ambos, com suas marcantes diferenças ideológicas, buscavam tentar compreender o Sagrado, a fim de legitimar uma defesa grandiosa que diz respeito a toda humana - a compreensão da inevitável (e imprescindível) alteridade humana.

 

Marcelo Antonio Milaré Veronese

Título: A poesia dantesca de Roberto Piva

Resumo: A poesia do paulistano Roberto Piva (1937-2010) pode ser lida na sua relação direta com A Divina Comédia de Dante Alighieri, obra estudada pelo poeta quando ainda era muito jovem e que seria constantemente pensada e relida ao longo de seus livros. À primeira vista, o contato com as obras de Piva, em qualquer momento de sua produção, já explicita através de referências diretas ou indiretas em seus poemas a importância do universo da poética dantesca – principalmente se entendida no seu aspecto “infernal”. Um exemplo disso é a reelaboração da temática da “realidade” através da apropriação atual da obra ou da própria figura do poeta-personagem da Commedia (“Dante foi um bruxo da família / Visconti (...) Todas as novidades estão no Inferno” diz um poema do livro Ciclones, de 1997), cuja representação se assemelha ao entendimento da máxima expressão da essência humana presente nos cantos do Inferno (cf. Erich Auerbach em Mimesis). O ideário da experiência a um só tempo corporal e mística, como pode ser lido na obra de Piva, problematizará a vivência relacionada com os aspectos do sagrado e do profano no mundo contemporâneo para além da visão particular que apresenta do poeta italiano e dos temas mais semelhantes, contribuindo para isso, ainda, sua filosofia homoerótica e seu comportamento anárquico-transgressivo na sociedade. Trata-se, aqui, de buscar o aprofundamento do diálogo poético com Dante, o qual possivelmente apresenta importantes chaves de leituras e abre portas especiais para a recepção e interpretação deste poeta infernal.

 

Marcos Grassi

Título: Eu quero a viagem dessa viagem: sensibilidade e (trans)formação em Grande Sertão: Veredas.

Resumo: O presente trabalho pretende abordar o tema da sensibilidade na obra Grande Sertão: Veredas de João Guimarães Rosa enquanto experiência fundadora do plano existencial. Tal relação será trabalhada a partir das personagens Riobaldo e Diadorim já que este (a) passa a despertar no outro, antes mesmo do amor incompreendido, uma atenção para singularidades da natureza, fatos e relações anteriormente não percebidas, etapa primeira de uma série de questionamentos existenciais que acompanharão Riobaldo por toda sua vida. Nesse sentido, o que essa pesquisa busca é a partir de Grande Sertão: Veredas, uma análise da temática da sensibilidade enquanto via para a reflexão, de maneira a acompanhar como a inegável presença do sensível - face à natureza (beleza natural) e à força lírica de Diadorim, passando pela questão da corporeidade e da percepção - é capaz de conduzir ao plano existencial, à postura existencial, tão consolida e inquietante em Riobaldo.

 

Maria de Fátima do Nascimento

Título: Considerações sobre a produção de Benedito Nunes do Jornal Folha do Norte de Belém do Pará.

Resumo: Benedito Nunes começa sua trajetória de homem de letras como crítico na imprensa escrita de Belém do Pará, colaborando no encarte jornalístico “Arte Suplemento Literatura”, do jornal  Folha do Norte, entre os anos de 1946 e 1951. Após seus primeiros passos na atividade de crítico nesse periódico, o ensaísta paraense passa a publicar em outros jornais do Brasil, a exemplo do Jornal do Brasil do Rio e posteriormente a figurar em livros nacionais como um dos expoentes dos estudos de autores da moderna arte verbal em vernáculo, a exemplo de Clarice Lispector, João Guimarães Rosa, Oswald de Andrade, Mário Faustino, João Cabral de Melo Neto e Fernando Pessoa, Assim sendo, a presente comunicação traz à baila considerações dos primeiros textos de Benedito Nunes publicados no referido periódico, a saber: capítulo de romance, poemas, crônicas, aforismos, entrevistas, crítica de poesia e de romances, textos estes importantes para a formação do ensaísta brasileiro.

 

Maria Catarina Rabelo Bózio

Título: Interdisciplinariedade nas relações da fotografia com a literatura em Juan Rulfo e João Guimarães Rosa

Resumo: É possível encontrar no livro A João Guimarães Rosa (1969) de Maureen Bisilliat uma organização da iconografia do sertão brasileiro, mais especificamente, do sertão roseano. Isso acontece de modo explícito ali, pois a artista intercala com suas fotografias, realizadas na região, transcrições de trechos de Grande Sertão: veredas (1956). Já em Juan Rulfo, pouco conhecido como fotógrafo, apesar de uma crescente visibilidade, o autor possui um acervo desse gênero que perpassa visualmente aspectos presentes também em sua literatura – vertente mais conhecida de sua obra. Dentre estes aspectos, um dos mais marcantes é a morte. Os fotogramas responsáveis por esta representação capturam ruínas de um México sofrido. Há elementos arquitetônicos de cidades abandonadas que funcionam como indícios visuais da morte. Procurou-se com essas análises contribuir com a reflexão sobre a relação entre literatura e fotografia, que, em linhas gerais, pode-se afirmar que não se trata de uma tradução imediata, como pode ser imaginada pelo leitor ou pretendida pelo fotógrafo.

 

Mirian Aparecida Deboni

Título: A relação entre ficção e texto sagrado no teatro de José de Anchieta

Resumo: Esta comunicação tem por objetivo discutir alguns dos resultados da dissertação “Os textos de José de Anchieta e o imaginário religioso: ficção X texto sagrado”, orientada pela Prof.ª Dr.ª Suzi Frankl Sperber. Para tanto, nosso objetivo é demonstrar como José de Anchieta adaptou em algumas de suas peças teatrais o pensamento religioso do século XVI ao conhecimento presumível dos espectadores de sua obra, sendo eles os colonos, os índios e os próprios padres que à colônia foram enviados. Pretendemos analisar como determinadas mensagens bíblicas foram transfiguradas em tais textos a fim de que pudessem ser melhor entendidas por seu público, demonstrando, portanto, que Anchieta não foi só um exemplar jesuíta, fiel discípulo dos ensinamentos de seu mestre Inácio de Loyola, mas também um poeta cuja obra catequética tem valores literários. Neste sentido, faremos a análise do auto Na visitação de Santa Isabel. Nosso principal objetivo nesse estudo será analisar as inúmeras metáforas relacionadas ao campo semântico da alimentação e da água, as quais representam a cena bíblica da visita de Maria a sua prima Isabel e o modo como se deu a concepção de Jesus no ventre de Maria.

 

Raquel Scotti Hirson

Título: Alphonsus, Meu Bisavô – um estudo de Memória e Mímesis Corpórea

Resumo: Este trabalho é o resultado da maneira que encontrei de exprimir as recriações - experimentadas no corpo - das memórias pessoais que me conectam ao meu bisavô, o poeta simbolista mineiro Alphonsus de Guimaraens (1870-1921). Através da poesia cheguei ao homem e, então, à curiosidade de saber quem foi esse homem capaz de poetar, em meio à monotonia de seus longos dias provincianos. A fantasia foi elemento fundamental para a recriação dessa memória e para a criação de uma dança cheia de imagens, em um devir outro, próprio do trabalho do ator.

A apresentação do trabalho pode conter uma parte prática, o que a enriqueceria, considerando tratar-se de uma pesquisa de corpo.

 

Ravel Giordano Paz

Título: Espectro, dialogismo, narratividade: a teoria da narrativa no confronto Derrida / Bakhtin

Resumo: O trabalho, súmula de um projeto de pós-doc concluído recentemente, consiste na tentativa de desdobramento – não diremos aplicação – de uma discussão prévia, que confronta conceitos ou noções conceituais de Jacques Derrida e Mikhail Bakhtin, no campo específico da teoria da narrativa, particularmente da narratologia de Gérard Genette. Nessa discussão prévia, obviamente sintetizada aqui, a teoria dialógica bakhtiniana e a exploração derridiana do motivo do espectro se desconstroem mutuamente, ao mesmo tempo em que revelam seus núcleos de interesse comum, e é com essa espécie síntese ruidosa ou problemática que confrontamos, agora, os esquemas e postulados genettianos, exercitando-a, ainda, em esboços de leituras de Mário de Andrade, Charles Baudelaire, Eça de Queiroz e Thomas Bernhard.

 

Régis Augustus Bars Closel

Título: Um abrigo na tempestade - Refletindo sobre o Rei Lear

Resumo: Esta comunicação tem como foco refletir sobre discussões a respeito da peça Rei Lear, de William Shakespeare, lideradas pela Profa. Dra. Suzi Frankl Sperber, e que fundamentaram reflexões posteriores acerca do drama deste período. A loucura, a liminaridade e a relação com história compõem três linhas de força com a qual nos debruçamos durante esses estudos. Buscarei deter-me no último ponto, a história, por trás de Rei Lear, recorrendo a esses temas que muito acrescentaram para uma compreensão diferenciada e fértil dessa tragédia. A peça do velho rei e suas filhas possui uma dimensão, que é magnificamente extensa em sua apreensão da condição humana, da jornada da vida, do perdão e da reconciliação. Ao mesmo tempo ela dialoga com os tópicos do tempo que a produziu ou mesmo em uma relação de alteridade com o seu leitor, atualizando um texto com quase 400 anos e ainda muito moderno. Contudo, as leituras históricas podem inundar a análise de historicidade sem deixar espaços para as dimensões transformadoras evocadas pelo drama. Portanto, a condição humana da peça será avaliada enquanto transformadora e transformada pela experiência histórica, que podem ser sintetizadas com a potencial imagem do protagonista solto no descampado diante das intempéries da natureza.

 

Sandra Luna

Título: Dramaturgia e Diferença: ser "Outro", condição para o trágico."

Resumo: Desde as suas origens gregas, a tragédia apresenta-se como gênero que elege a exemplaridade como critério para a construção de personagens. O desejo de ilustrar que nem mesmo os representantes mais nobres e dignificados de seu estrato social estavam imunes às ocorrências do trágico tornava inescapável a relação entre a tragédia e a areté, daí a elevação, a excelência sempre associada aos protagonistas do teatro trágico. Lembremos que a epopéia também representava a excelência. No entender de Aristóteles, ambos os gêneros, épico e dramático, associavam-se por via do conceito de spoudaios, valendo-se de heróis que atendiam aos padrões mais elevados no ranking social apreendido na construção estética. Nesse patamar social e estético que situa as personas épicas e trágicas para além dos comuns dos homens, o herói sobreleva-se ainda mais, animado por uma hybris que o torna maior que os maiores. Entretanto, se na épica a hybris se manifesta com vistas à glorificação do herói, no drama a hybris se revelará fatídica, caso em que haverá algo além desse excesso contribuindo para a queda trágica. É justamente esse componente que se associa aos traços de elevação e excesso definidores do herói trágico que nos permite atentar para a alteridade implicada em sua caracterização, já na antiguidade clássica. A modernidade tentará apreender essa condição trágica por meio da detecção de alguma “falha moral”, a chamada “falha trágica”, comumente associada aos heróis trágicos shakespeareanos. Na dramaturgia contemporânea, o herói trágico moldar-se-á frequentemente como anti-herói, mas sua demarcação em relação aos seus pares permanece como fator inamovível de caracterização. Nosso estudo prevê uma revisão da tradição dramatúrgica buscando, através da noção de “alteridade”, detectar padrões recorrentes que fazem do herói um “outro”, examinando as bases sociais, políticas e institucionais que caracterizam essa “alteridade” como condição para o trágico.

 

Sandra Miyatake Sakamoto

Título: O Haicai do Grêmio Haicai Ipê

Resumo: Resumo da história do Grêmio Haicai Ipê, surgido em Maio de 1987. O Grêmio contou com o apoio de H. Masuda Goga – o Mestre Goga - imigrante japonês que escrevia haicais tanto em português como em japonês. Ele surgiu pela necessidade comum de seus participantes em buscar uma forma estrutural para que o haicai pudesse ser escrito em língua portuguesa tendo como modelo o haicai tradicional japonês sem que esta produção fosse meramente uma cópia dos poemas japoneses, mas que, além disso, tivesse características que o distinguissem da produção japonesa.

Como minha pesquisa contou com uma análise de um montante de cerca de 14 livros (antologias publicadas pelo Grêmio) e 5500 haicais (produzidos por este grupo desde a primeira até a centésima reunião) poderei referir características dos haicais e do trabalho realizado por Mestre Goga, pontuando a presença da estética japonesa, com as características do pensamento, filosofia e religiões orientais, adaptadas aos haicais produzidos pelo Grêmio.

 

Shéllida Fernanda da Collina Viegas

Título: A intrigante história das edições de Moll Flanders e Roxana: um reflexo da sociedade inglesa oitocentista.

Resumo: Visando assegurar os direitos autorais, atualmente são tão comuns as reflexões sobre plágio e pirataria editorial que o mercado editorial inglês oitocentistas e as regras que o regia nos parecem ultrajantes. Um claro exemplo disso são as diversas alterações que os romances de Daniel Defoe, principalmente Moll Flanders e Roxana, obras que narram em 1a pessoa a história de mulheres taxadas como prostitutas, sofreram após a morte do autor. Para entender tal prática, é necessário analisar tanto as normas editoriais quanto as mudanças da sociedade. Afinal, a primeira explicaria porque tal prática era legal, já a segunda, porque para o novo público leitor um novo final, mais próximo de suas realidades, fazia-se necessário.

 

Silvana Oliveira

Título: Bakhtin, Deleuze e Guattari: confluências teóricas para o estudo da literatura

Resumo: A proposta deste trabalho é relacionar as reflexões teóricas produzidas por Mikhail Bakhtin sobre a dinâmica dos processos de enunciação, tanto na linguagem em uso como na produção literária, aos conceitos propostos por Gilles Deleuze e Felix Guattari para o “jogo do mundo”. Tal encontro entre esses teóricos é apresentado com vistas a uma orientação de leitura para o fenômeno literário em geral e para os romances A Hora da Estrela e A Paixão Segundo G.H., de Clarice Lispector, em específico. Os conceitos-chaves aos quais este trabalho se dedica mais diretamente são, por parte das proposições de Bakhtin, “dialogismo”, “plurilinguismo” e “polifonia”e, por parte da produção de Gilles Deleuze e Felix Guattari, “rizoma”, “atual”e “virtual”. Da produção de Mikhail Bakhtin destacam-se, para este estudo, os livros Estética da Criação Verbal, tradução de Paulo Bezerra, em 2003 e Questões de Literatura e Estética: a teoria do romance, tradução de Aurora Bernardini e outros, em 1998; de Gilles Deleuze e Felix Guattari, são tomados os escritos de Mil Platôs – Capitalismo e Esquizofrenia (Volumes 1 e 3) traduzidos por Aurélio Guerra Neto, Celia Pinto Costa e Ana Lúcia de Oliveira, entre 1995 e 1996.

 

Valéria Bittar

Título: Músico Hiato: por um Músico em Ato

Resumo: Trata-se de uma breve exposição crítica da formação do músico intérprete, forjada na metodologia do Conservatório estabelecida no Romantismo. Compara-se essa “mentalidade” à noção da “sociedade disciplinar”, “sociedade dos corpos dóceis”, desenvolvida por Michel Foucault (2007), como estrutura da formação musical, geradora de uma “interpretação neutra” e do músico apagado e ausente da performance musical. O eixo dessa formação concentra-se no texto musical como valor absoluto, na autoria do texto e na decodificação intelectualizada e abstrata deste, através de um treinamento técnico e automatizado.

Expõe-se, por outro lado, o contato do músico intérprete com composições que contêm escrita de contornos “móveis”, em especial, composições da Idade Média, como também contemporâneas, como os principais fatores que desviaram o músico da interpretação musical “canonicista” consolidada no Romantismo. A experiência com esta mobilidade de escrita conduziram o performador musical a deslocar o eixo da interpretação textocêntrica acionando a noção da performance como uma operação de ordem perceptiva, cujo eixo é o intérprete “encarnado” e a audiência.

Partindo da conscientização da mobilidade do texto considera-se a abertura de um diálogo, por parte do performador musical, com outras artes performáticas, o teatro e a dança contemporâneos. Sugere-se o encontro de denominadores comuns entre estas artes – em especial o encontro com os conceitos fundamentados no teatro de Jerzy Grotowski, na antropologia teatral de Eugenio Barba e na Técnica Klauss Vianna de “Escuta do Corpo”. Neste diálogo é proposta como estruturação do performador para a performance musical perceptiva, a inclusão de fundamentos trazidos por este teatro e pela Técnica Klauss Vianna: acionamento da atenção que parte da desautomatização do corpo cotidiano e a consequente geração da dilatação e da presença do corpo do atuante no momento do Ato musical.

 

Waldecy Tenório

Título: Thérèse de Lisieux e Madame Bovary: Duas ou três coisas que eu sei delas

Resumo: Os manuscritos de Thérèse de Lisieux e o romance Madame Bovary, de Gustave Flaubert, mostram os constrangimentos e conflitos que dilaceram duas mulheres. Elas sofrem e se rebelam contra o destino e a condição que o século XIX lhes reserva e, para resistir, inventam, cada uma, a sua forma particular de bovarismo. Vivem situações absolutamente diferentes, uma no convento, a outra em sociedade e, em alguns aspectos, estão muito distantes uma da outra. No entanto, estão muito próximas na espiritualidade, na rebeldia, na sensibilidade à flor da pele, na melancolia, no misticismo, nos êxtases e na paixão. Como o mesmo desejo as atormenta, podemos até confundir seus nomes: Emma de Lisieux e Thérèse Bovary.

 

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